“Os homens criam as ferramentas, e as ferramentas recriam os homens”

By | Pensadores

“Os homens criam as ferramentas, e as ferramentas recriam os homens”

A frase “We shape our tools and then our tools shape us”, traduzida como “Nós moldamos nossas ferramentas e então nossas ferramentas nos moldam”, ou ainda adaptada como “Os homens criam as ferramentas, e as ferramentas recriam os homens” é costumeiramente citada em trabalhos acadêmicos e apresentações de estrategistas digitais no mundo todo. O autor seria Herbert Marshall McLuhan, pensador das mídias, idealizador do conceito de “Aldeia Global”. Será?

Quem é Herbert Marshall McLuhan?

Herbert Marshall McLuhan (1911–1980) foi um filósofo, professor e teórico da comunicação canadense. Ele é talvez melhor conhecido por sua frase “o meio é a mensagem” e pela ideia de um “aldeia global”, conceitos que ele introduziu para explicar as mudanças culturais e sociais causadas pelos novos meios de comunicação, especialmente a televisão.

Aqui estão alguns pontos-chave sobre McLuhan:

  • O meio é a mensagem: McLuhan argumentou que a forma como recebemos informações (por exemplo, através da televisão, rádio, impressão ou conversa face a face) tem mais influência em nossa sociedade do que o conteúdo da informação em si. Por exemplo, a televisão, independentemente do programa que está transmitindo, tem o poder de transformar a sociedade simplesmente pela maneira como transmite informações.
  • Aldeia Global: Com o advento dos meios de comunicação globais, especialmente a televisão e depois a internet, McLuhan previu que o mundo se tornaria uma “aldeia global“. Isso significa que os meios de comunicação tornariam o mundo mais interconectado, como se todos estivéssemos vivendo em uma pequena comunidade ou aldeia.
  • Quente vs. Frio Media: McLuhan categorizou diferentes meios de comunicação como “quentes” ou “frios” com base em quanto eles envolvem o público. Mídias “quentes”, como o rádio e o filme, são definidas como sendo de alta definição e requerendo pouca participação do público. Mídias “frias”, como a televisão, são de baixa definição e requerem mais envolvimento e participação do público.
  • Estudos de Mídia: McLuhan é amplamente considerado um dos fundadores dos estudos modernos de mídia. Seus trabalhos exploram a influência profunda dos meios de comunicação na forma como pensamos, sentimos e nos comportamos como sociedade.

Quais os principais livros de McLuhan?

Herbert Marshall McLuhan foi uma figura seminal nos estudos de mídia e sua influência continua a ser sentida em muitos campos do conhecimento. Alguns de seus livros mais notáveis e influentes incluem:

  • The Gutenberg Galaxy: The Making of Typographic Man (1962) – Neste trabalho, McLuhan discute como a invenção da imprensa tipográfica e a cultura da impressão influenciaram a percepção e a organização social no Ocidente. Ele argumenta que a imprensa tipográfica ajudou a criar a mentalidade do individualismo e o padrão de pensamento linear associado à modernidade.
  • Understanding Media: The Extensions of Man (1964) – Este é provavelmente o livro mais famoso de McLuhan. Aqui, ele introduz a ideia de que “o meio é a mensagem”, argumentando que as tecnologias de mídia (como a televisão, rádio, etc.) são extensões de capacidades humanas e moldam a forma como percebemos e interagimos com o mundo.
  • The Medium is the Massage: An Inventory of Effects (1967, co-autoria com Quentin Fiore) – Este livro, um play on words com seu famoso ditado “o meio é a mensagem”, é um trabalho visualmente envolvente que combina texto e imagem para explorar as ideias de McLuhan sobre mídia e sociedade.
  • War and Peace in the Global Village (1968, co-autoria com Quentin Fiore) – Neste livro, McLuhan e Fiore exploram as implicações da mídia eletrônica para a guerra e a paz, argumentando que a mídia eletrônica cria um ambiente de “aldeia global” interconectada.
  • From Cliche to Archetype (1970, co-autoria com Wilfred Watson) – Aqui, McLuhan discute linguagem, mito e cultura, explorando a transformação de clichês em arquétipos e vice-versa.
  • City as Classroom: Understanding Language and Media (1977, co-autoria com Kathryn Hutchon e Eric McLuhan) – Este livro foi escrito como um texto educacional para ajudar os estudantes a entender a linguagem e a mídia em um contexto urbano.

Esses são apenas alguns dos trabalhos de McLuhan, mas são os mais frequentemente citados e discutidos. Seu trabalho é multifacetado e sua influência pode ser vista em áreas tão diversas quanto estudos culturais, design, comunicação, tecnologia e filosofia.

McLuhan foi um pioneiro em reconhecer o poder e o impacto dos meios de comunicação em nossa sociedade, e seu trabalho continua a ser uma referência na área de estudos de mídia.

Sobre a frase: “Os homens criam as ferramentas, e as ferramentas recriam os homens”

McLuhan, sem dúvida, constituiu um sólido legado de pesquisas na área de mídia, que invariavelmente levam à esta conclusão, mas vamos manter o foco na citação — este intervalo entre aspas — seria McLuhan o primeiro a escrever a frase em uma publicação? Algumas evidências fazem crer que não.

Pesquisei em vários artigos e nenhum deles faz referência à página na qual a citação foi publicada originalmente. Além disso, realizei várias buscas em “Understanding Media: The Extensions of Man”, a obra que os artigos referenciam sem citar número de página e nada. Passada esta etapa, após muita pesquisa na web, encontrei uma resposta instigante neste post do blog McLuhan Galaxy, que além de tudo, afirma: a referida frase não aparece em nenhum trabalho publicado pelo estudioso Canadense.

Ao que tudo indica, na verdade, a frase foi proferida por John Culkin, então padre jesuíta que foi colega de McLuhan em Harvard. Tornaram-se amigos, inclusive, devido ao interesse comum pelos estudos de mídia, como relembra Kate Muddy, do Center for Media Literacy:

In 1964, Culkin accepted a position at Fordham University in New York City, and then urged the dean to hire McLuhan from Toronto. McLuhan moved to Fordham and his newly-published book, Understanding Media: The Extensions of Man, formed the basis for all of their work. At Fordham, Father Culkin created methods for learning and teaching how to use television, film and photography as “objects of study” and combine them with more traditional subjects in the humanities, English literature, and the arts. (Artigo completo aqui)

“Os homens criam as ferramentas, e as ferramentas recriam os homens”
Culkin e McLuhan (Saturday review, 1967)

Afinal, onde está publicada a frase “os homens criam as ferramentas, e as ferramentas recriam os homens”?

A citação consta em um artigo de John Culkin para a revista Saturday Review, com o título “A schoolman’s guide to Marshall McLuhan”, publicado em 18 de março de 1967, páginas 51-53 e 70-72. A citação literal é “We shape our tools and thereafter they shape us”.

Abertura do artigo de Culkink, p.50
A continuação do artigo (p.70) traz a famosa frase

3) Life imitates art. We shape our tools and thereafter they shape us. These extensions of our senses begin to interact with our senses. These media become a massage. The new change in the environment creates a new balance among the senses. No sense operates in isolation. The full sensorium seeks fulfillment in almost every sense experience. And since there is a limited quantum of energy available for any sensory experience, the sense-ratio will differ for different media.

A ideia é totalmente coerente com o pensamento de McLuhan e, considerando o vínculo entre os dois pesquisadores, há grandes possibilidades de ter sito dita por um ou outro. O fato é que foi publicada nas palavras de Culkin, em um esforço de aplicação da lógica McLuhiana para a esfera da educação.

Fica o questionamento: as pessoas realmente lêem as obras (ou pelo menos certificam-se da origem) antes de referenciá-las?

Quem foi John M. Culkin?

John M. Culkin, SJ (1928–1993) foi um sacerdote jesuíta, educador e pioneiro no campo dos estudos de mídia. Ele é mais conhecido por sua associação e colaboração com Marshall McLuhan, o renomado teórico da comunicação. Culkin é frequentemente lembrado por sua famosa frase: “Nós moldamos nossas ferramentas e, posteriormente, nossas ferramentas nos moldam”, que na verdade é uma paráfrase das ideias de McLuhan.

Alguns pontos notáveis sobre John Culkin:

  1. Educador de Mídia: Culkin foi um dos primeiros defensores da educação em alfabetização midiática. Ele acreditava que era vital para as pessoas, especialmente para os jovens, serem educadas sobre como a mídia influencia a percepção e a compreensão do mundo.
  2. Centro para a Aprendizagem de Mídia: Ele fundou o “Center for Understanding Media” em 1968, uma organização que promoveu a educação em alfabetização midiática.
  3. Colaboração com McLuhan: A colaboração entre Culkin e McLuhan foi crucial para a introdução das ideias de McLuhan no campo educacional dos EUA. Culkin escreveu extensivamente sobre as teorias de McLuhan e trabalhou para integrá-las em programas educacionais.
  4. Promoção da Alfabetização Visual: Culkin foi um proponente do desenvolvimento da alfabetização visual nas escolas, argumentando que, em uma era dominada pela televisão e, posteriormente, por outras mídias visuais, era tão importante ser “alfabetizado” visualmente quanto tradicionalmente em termos de leitura e escrita.

Embora talvez não tão amplamente reconhecido quanto McLuhan, o trabalho de John Culkin no campo da educação e alfabetização midiática foi influente e ajudou a estabelecer as bases para os programas modernos de alfabetização midiática.

Edição de março de 1967 da Saturday Review traz McLuhan na capa, mas o artigo é assinado por John Culkin

Edição de março de 1967 da Saturday Review traz McLuhan na capa, mas o artigo é assinado por John Culkin

Acesse a edição completa da Saturday Review de 18 de março de 1967.

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